segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Lagryma negra - Dante Milano (1889-1991)


Aperte fortemente a penna ingratta
entre os dêdos nervosos e trementes,
e os versos jórram, claros e estridentes,
numa cascata, numa cataracta!

Escrevo, e canto cânticos ardentes,
enquanto dos meus olhos se desata
uma fiada de lagrymas de prata
como um collar de pérolas pendentes...

Eu canto o soffrimento, a ancia incontida
de amor, que é a maior ancia desta vida,
- vida a que a Humanidade se condemna!

E todo o meu sofrer, todo, se pinta
neste pingo de dor -- pingo de tinta,
lagryma negra que me cáe da penna

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Do not go gentle into that good night (Dylan Thomas)


Do not go gentle into that good night,
Old age should burn and rave at close of day;
Rage, rage against the dying of the light.

Though wise men at their end know dark is right,
Because their words had forked no lightning they
Do not go gentle into that good night.

Good men, the last wave by, crying how bright
Their frail deeds might have danced in a green bay,
Rage, rage against the dying of the light.

Wild men who caught and sang the sun in flight,
And learn, too late, they grieved it on its way,
Do not go gentle into that good night.

Grave men, near death, who see with blinding sight
Blind eyes could blaze like meteors and be gay,
Rage, rage against the dying of the light.

And you, my father, there on the sad height,
Curse, bless, me now with your fierce tears, I pray.
Do not go gentle into that good night.
Rage, rage against the dying of the light

Não entres nessa noite docilmente (Dylan Thomas)




Não entres nessa noite docilmente,
A velhice deve arder em delírio ao fim do dia.
Lances contra a luz que se apaga um grito demente

O sábio, para quem a morte é certa e segura,
Sabe que sua palavra não retém a luz que via,
E não entra nessa noite com doçura.

O homem bom, que nas últimas ondas pressente
Suas débeis façanhas esvanecer na verde baía,
Lança contra a luz que se apaga um grito demente.

Os insanos, que quiseram agarrar e cantar o sol em sua loucura,
Tarde demais aprenderam que o oprimiam em sua travessia,
E não entram nessa noite com doçura.

O homem grave, que diante da morte vê como cego vidente
Olhos opacos como astros resplandecerem de alegria,
Lança contra a luz que se apaga um grito demente.

E tu, meu pai, agora distante nessa triste altura,
Amaldiçoa-me, abençoa-me com tua lágrima arredia
Não entres nessa noite com doçura
Lança contra a luz que se apaga um grito de loucura.

sexta-feira, 22 de junho de 2018


de repente o gesto desesperado
nos salva
lança-nos nas sombras
do insondável presente
esse assombroso intervalo
nas dobras entre as vértebras rotas
da vertiginosa fratura da rotina

do ato inesperado
verte o amálgama de sangue
e ossos triturados na engrenagem da alma
grudando o vidro da retina
à pele enrugada do mundo

assim acuados
de repente
despertamos opacos
tateando o pálido dorso da fera
translúcida em cujo desfigurado semblante
vemos nosso rosto prefigurado

(jun/2013)