mijo na porta da amada cachorra (cadê ela?)
a cadela vive no cio enquanto eu morro no ócio
arredio farejo um logro
arrepio a crina
arredo o pé
arredo o pé
vida de perro não é fácil
roo o osso mas não sou dócil
não fico perrengue
ladro um fero brado
nos derredores
vinte palmos de pelo e marra
nos derredores
vinte palmos de pelo e marra
pelo ocre caninamente escuro
erro pelos becos em pelos eriçados
rente ao muro
trago um cigarro barato
olhos em brasa rosno um rock
sou El Perro
entre lobos e homens eu aperreio-me
mordisco uma carniça rego a goela ardente
berro erres de ressentimento e raiva
rolo na terra fico rouco (não sou cachorro)
arrepio-me
a contrapelo roço o couro na parede
mordo o próprio rabo
coço o saco
coço o saco
crio rugas na testa e pelos na orelha
planto verrugas no rosto
vocifero pragas entre dentes
sob o plenilúnio lato
recuso o uivo estridente e não viro a lata
aperreio-me
sou El Perro (eu não sou cachorro não)
(mai/2013)
(mai/2013)