terça-feira, 14 de abril de 2020

El Perro




mijo na porta da amada cachorra (cadê ela?)
a cadela vive no cio enquanto eu morro no ócio

arredio farejo um logro
arrepio a crina
arredo o pé

vida de perro não é fácil
roo o osso mas não sou dócil
não fico perrengue

ladro um fero brado
nos derredores
vinte palmos de pelo e marra
pelo ocre caninamente escuro 
erro pelos becos em  pelos eriçados
rente ao muro
trago um cigarro barato
olhos em brasa rosno um rock
sou El Perro

entre lobos e homens eu aperreio-me
mordisco uma carniça rego a goela ardente
berro erres de ressentimento e raiva
rolo na terra fico rouco (não sou cachorro)
                        arrepio-me
a contrapelo roço o couro na parede
mordo o próprio rabo
                   coço o saco
                       
crio rugas na testa e pelos na orelha
planto verrugas no rosto
vocifero pragas entre dentes
sob o plenilúnio lato 
recuso o uivo estridente e não viro a lata
                        aperreio-me
sou El Perro (eu não sou cachorro não)

(mai/2013)

quarta-feira, 11 de março de 2020

Vida anfíbia


Baby
estou voltando pra casa
você sabe
flerto com o eterno e fodo com o efêmero
se estou na rua estou na tua
se estou na tua estou em casa
sou de lua
Baby
viro a lata do lixo
me lixo para o nexo
me fixo no fluxo
sou viralata de luxo
minha vida anfíbia 

Baby
second life
lado oculto dark side
tem sido sempre assim
a walk on the wild side
mas sempre volto 

Baby
chupo o néctar do inútil
sou fútil meu bem
não moro 

transito
quando mordo não escondo os dentes
quando morto renasço de repente
desço ao fundo do poço
mas volto sempre

Baby
às vezes surto
mas no delírio me reconheço
quando choro não uso colírio
mas não se assuste sou subtil
roubo um beijo levo um tapa
dou a outra face
leva um tempo 

Baby
roubo o queijo e fujo para o escuro
o meu refúgio
mas no fundo do túnel vejo claro
estou voltando pra casa

Baby

(jul/2009)